Porque um caminhão tomba?
Essa pergunta pode ser respondida de duas maneiras:
1ª – Aspectos da Física e Mecânica do evento
Por esse aspecto um caminhão tomba quando ele ultrapassa certos limites e ocorre um movimento de rotação em torno do seu eixo longitudinal provocado, na sua maioria, pela inércia, onde carga e veículo tendem a continuar sua trajetória em linha reta. Haverá um esforço de torção do veículo e da carga, numa combinação de força e ponto de apoio ao solo (momento torçor) e quando passa de um certo limite, ocorre o tombamento.
Mas, que limite é esse? Através de cálculos, é possível chegar na velocidade limite de uma curva, na qual, a partir dessa velocidade, o veículo tomba, abaixo dela o veículo não tomba. Seriam necessárias horas e horas de cálculos para se chegar a esse valor (obviamente nesse pequeno artigo não caberiam esses cálculos), para um determinado caminhão, com um determinado centro de gravidade combinado com a carga, para um certo raio de curva, com uma certa distribuição de carga, com um determinado vento lateral, com uma certa velocidade, dentre outros. Na prática fazer esses cálculos, para cada curva, é inviável.
Os fatores que influenciam nas causas físicas e mecânicas de um tombamento são: Excesso de velocidade (muito frequente), choque com outro veículo, saída de pista, excesso de carga, carga alta, carga mal distribuída, movimentos bruscos do volante, buracos na parte externa da via, elevação na parte interna da via, pneus descalibrados, molas quebradas, ventos laterais, falhas mecânicas, movimento da carga (exemplo: caminhão tanque com meia carga), mudança de raio da curva, problemas nos freios e má utilização dos freios. O que se nota, na maioria das vezes, é a combinação desses fatores que levam a um tombamento.
Agora entra a segunda maneira de responder a pergunta: porque o caminhão tomba?
2ª- Cultura Empresarial
Para responder por essa segunda maneira, é preciso entender o porque o veículo ultrapassou o seu limite. Normalmente é por negligência, imprudência ou imperícia.
Estudos mostram que um tombamento dá sinais antes de acontecer e as pessoas desconhecem esses sinais ou não dão importância a eles. São sinais comportamentais que vão avisando que o “acidente” (coloco entre aspas porque existe uma diferença entre acidente e erro, que falarei em outra oportunidade) vai ocorrer. Se esses sinais não forem tratados levarão a uma fatalidade. Essa é uma das principais causas de tombamentos. Para resolver isso é necessário ir na raiz do problema. Os sinais que antecedem uma fatalidade são pequenas lesões, perdas materiais e pequenos incidentes que, quando não analisados e tratados adequadamente, vão gerar o evento de tombamento com suas consequências. Esse fato é demonstrato pelo trabalho de Frank Bird. Então a pergunta que se deve fazer é: porque aconteceu esse sinal? e a partir daí, chegar a raiz do problema, bem antes de acontecer o tombamento, é trabalhar com a prevenção e mudança de atitude.
Frequento muitas empresas e vejo uma grande variedade de culturas empresariais, todo tipo que se pode imaginar. Para se resolver os problemas de “acidentes” e tombamentos o tratamento muitas vezes passa por uma mudança em todos os níveis, através de treinamentos e consultorias, que farão a empresa começar a trilhar o caminho da segurança nas operações. Mudar o comportamento das pessoas não é tarefa fácil, mas posso afirmar, com certeza, que é possível e os resultados são surpreendentes, tanto no aspecto de segurança, quanto de economia e redução de falhas.
Portanto o tombamento deve ser tratado sob esses dois aspectos porque na prática não vamos calcular a velocidade limite de cada curva, para cada caminhão, para cada situação com “n” variáveis. Como não vamos calcular esse limite de velocidade, temos que entrar na curva numa velocidade bem abaixo do limite.
Todo tombamento pode ser evitado, seja pelo condutor do veículo ou por causas externas.
Profº Eng. Manoel Carvalho Filho
